30 de ago. de 2011

A História de São Raimundo Nonato dos Mulundus

Transcrevo hoje das páginas do jornal Folha do Iguará do ano de 1997, da cidade de Vargem Grande um texto da Professora Dolores Mesquita versando sobre a história de São Raimundo Nonato dos Mulundus. O texto serviu de inspiração para o trabalho de encenação com crianças, adolescentes e adultos de escolas públicas da cidade de Vargem Grande, quando ministramos em 1977, a oficina de Iniciação Teatral pelo projeto A Grande Virada: uma experiência pedagógica proposta pela saudosa professora Ana Maria Saldanha realizadas nos municípios do Estado. O projeto realizado nos finais de semana proporcionava a comunidade escolar e civil oficinas de arte, educação, cultura, saúde, esporte e lazer.

A história de São Raimundo Nonato dos Mulundus

Profª. Dolores Mesquita

Mulundus, era uma fazenda pertencente ao município de Vargem Grande, tendo como donos umas brancas da família Faca Curta. As mesmas tinham muito dinheiro e poderes de uma escravatura da feitora de Santa Maria.

Dentre os seus vaqueiros havia uma família que tinha um filho com o nome de Raimundo Nonato, que era “fabrica” (nome que se dava aos ajudantes dos vaqueiros). Conta-nos os antigos, que todos os dias, à meia noite, Raimundo levantava-se, saía. Não demorava muito a voltar e logo retornava à sua rede. O pessoal da fazenda, curiosos com aquilo, um dia resolveram descobrir qual a origem daquele passeio incomum.

Juntaram-se, e logo que saiu Raimundo Nonato, acompanharam-no. Ficaram admirados com o que viram: encontraram Raimundo ajoelhado junto a uma pedra grande a orar. Sem serem vistos, voltaram.

Um belo dia foram vaquejar (pegar gado). Ao se reunirem na volta, deram por falta de Raimundo Nonato. Procuraram-no por toda parte da fazenda, e nada de encontrá-lo. Então eles lembraram da pedra onde ele ia rezar toda meia noite. Quando lá chegaram, encontraram-no morto, caído, com o pescoço quebrado. O chapéu de coro que trazia consigo, estava ao lado, e o corpo já estava santificado (visto que já fazia três dias de morto e não se decomposto).

Ao redor da pedra, nasceu uma carnaubeira como que cercando o local, dando umas três voltas ao redor. Com o passar dos tempos, foram tirando as palhas, pedaços do tronco, até mesmo a raiz da carnaubeira para fazer chá. As pessoas que tomavam do chá, curavam-se dos males que tinham, embora a doença fosse incurável. Supunha-se até que a carnaubeira era a mãe do santo, mandada por Deus. Fizeram então, no mesmo local, uma capelinha de palha e começaram a festejar com cânticos, orações e ladainhas o dia que ele havia morrido – 31 de agosto. A notícia começou a espalhar-se sobre o santo milagroso.

Contaram os escravos Raimundo, Secundio, Quirino, Martiniano, Macário, Zé Firino, Militão, José Cabral que o corpo santificado que havia sido levado para Roma. Mesmo assim, eles continuaram a devoção cada dia mais forte, fazendo novenas dirigidas por uma família de homens reunidos de uma escravatura da feitoria de Santa Maria que tinha por dona umas brancas da família Faca Curta.

Com a queda da monarquia a família Faca Curta vendeu as terras para o coronel Solano Rodrigues e foram embora, ficando por obediência ou amor ao santo, estes negros já citados. Estes formavam o coral das novenas cujo chefe era Macário Ferreira da Silva. Isto pelos anos de 1.858 mais ou menos.

Logo após a compra da terra da fazenda Mulundus, dona Luiza esposa do Coronel Solano Rodrigues, morava em outra fazenda, no lugar Primavera, com toda a sua família. Certo dia, um dos seus filhos, Saul, irmão de Nina Rodrigues, adoeceu gravemente. Então D. Luiza, aflita, apegou-se com o santo milagroso, que era São Raimundo. Fez a seguinte promessa: se o filho não morresse e ficasse curado, ela iria trabalhar a punho, (embora fosse muito rica) para que, com o dinheiro ganho desse trabalho, mandasse buscar uma imagem para Mulundus. Então o filho logo se restabeleceu e ficou curado graças ao milagre de São Raimundo. Logo, logo, ela tratou de cumprir a promessa. Mandou buscar a imagem em Portugal, a qual custou um conto e setecentos réis. A imagem veio através dos irmãos Islans, que eram portugueses e moravam em São Luís. Quando foi entregar a imagem esta foi carregada na cabeça para que não caísse.

Quando D. Luiza entregou a imagem na capelinha de Mulundus disse que era para ser celebrada a festa da seguinte maneira:

No dia 21 de agosto a imagem sairia de Vargem Grande, pernoitando na localidade Nova Olinda, onde ao amanhecer continuaria a romaria até chegar em Mulundus, dia 22. Permanecendo ali até o dia 31, fazendo-se, assim, um novenário em honra do Santo, encerrando a festa com uma bela procissão. No dia 1 de setembro a imagem voltaria com a mesma romaria, de ida para Mulundus, chegando em Vargem Grande no dia 2, quando então a imagem passaria o resto do tempo na Igreja de São Sebastião. Assim foi feito, até mudarem a festa para Vargem Grande, em 1953.

Com o passar dos anos, cada vez mais a festa se propagava, os milagres que os romeiros alcançavam eram de admirar. O povo queria para lá alojava-se em barraca feitas todas em palhas, e o santuário recebia uma renda fabulosa!

Resolveram, então, no lugar da capela onde foi encontrado Raimundo morto, construir uma igreja grande, onde coubesse os seus romeiros, e assim foi feito.

Lá para os anos de 1901 a 1908 era pároco da Paróquia de Vargem Grande o Pe. Custodio José da Silva Santos, que ia celebrar a festa em Mulundus. A igreja já estava iniciada e com sua ajuda, acelerou a construção da Igreja, a qual era muito bonita, com o coreto bem grande, onde as cantoras das ladinhas e orquestras ficavam a acompanhar o padre nas suas celebrações. Havia um patamar enorme, feito bem no centro de um acampado, onde ao lado ficava o rio Iguará que servia para abastecer aquele povo. É uma tristeza para quem passa naquela localidade ver a deteorização daquela bela Igreja! Apesar do abandono em que vive, o altar onde celebram as solenidades religiosas permanecem firme, sendo resistente ao sol e chuva, dizem o povo que não cai porque São Raimundo protege aquele santo lugar.

Publicado na Folha do Iguará – Ano I, Nº 1. Vargem Grande. Setembro, 1997. Página 5.

Imagem: Renato Pereira
































Um comentário:

  1. Muito interessante seria bom que realmente os romeiros conhecesse está história,adorei saber sou devoto di santo dos vaqueiros por isso procurei conhecer a história de mulundu....

    ResponderExcluir